O Vale do Jequitinhonha é uma região geográfica que apresenta peculiaridades que a destacam no cenário sociocultural brasileiro. À parte as mazelas históricas que o colocam de par com as regiões mais sofridas do país, esse microcosmos de vivências e manifestações encerra uma riqueza simbólica cuja importância ainda não foi plenamente assimilada pela sociedade brasileira, mas cuja valorização tem sido ampliada dia a dia pelo trabalho incansável de nossa gente. No Vale, atividades tradicionais relacionadas à agropecuária, ao artesanato e às manufaturas em geral têm sido fundamentais para o sustento físico e emocional de grande parte de seus habitantes. Nesse contexto, a sobrevivência de atividades seculares voltadas à subsistência, além de manifestações culturais endêmicas, tem preservado um modus vivendi que se configura como um bem imaterial de elevado valor cultural, cuja preservação torna-se cada vez mais importante à medida que o passar do tempo reduz os contingentes de mestres e conhecedores, responsáveis pela transmissão de conhecimentos específicos em cada comunidade e que compõem o mosaico da Cultura Jequitinhonha contemporânea.
Esta exposição, mais que exibir instantâneos do cotidiano valês, tem a ambiciosa pretensão de reavivar nossas memórias e recompor o tempo – por muitos esquecido – de nossa mineiridade, descortinando a nossos corações um universo onde as relações são ainda pautadas pela simplicidade, pela religiosidade, pela alegria e por outros sentimentos e condicionantes que tornam o Jequitinhonha como que um “estado de espírito” para os que nele vivem ou dele provêm. Como bem disse o poeta Gonzaga Medeiros o povo do Vale vale mais pelo que é do que pelo que tem. Nesta perspectiva, estas imagens trazem um recorte dessa essência, captada pela lente atenta e inquieta de Lori Figueiró, palmilhando um percurso pelo espaço-tempo entremeado de manifestações gestuais, posturais, formais e cromáticas que refletem os saberes, usos, costumes e crenças que compõem um mosaico atemporal das relações societárias da gente do Vale.
Jorge Dikamba Curador