Instituto Brasileiro de Museus

Museu Regional Casa Dos Ottoni

Serro

Localizado na Serra do Espinhaço a cerca de 230 km de Belo Horizonte[1], o município traz na sua história a corrida pelo ouro, a riqueza proporcionada pela exploração das minas, a decadência dessa atividade e a necessidade de se reinventar economicamente. Além disso, e não menos importante, esse passado é também povoado por índios, escravos, senadores, intendentes do ouro, sinhás, negros forros… Enfim, toda uma sociedade que se desenvolveu a partir de suas relações pessoais, políticas e econômicas, suas crenças e sua cultura, de forma a compor a identidade do povo serrano e a determinar o tempo presente.

Vista do Serro do alto do Morro do Bicentenário
Créditos: Paulo Procópio/Acervo da Secretaria Municipal de Cultura e Turismo

De Ivituruí a Serro

Corria o ano de 1701 quando chegou à região que era conhecida pelo nome de Ivituruí, termo de origem tupi-guarani que significava “morro de ventos frios”, uma bandeira chefiada pelo guarda-mor Antônio Soares Ferreira. Tal como ocorreu em outras partes do território colonial, a terra já era habitada por índios – no caso, botocudos e maxacalis.

Jardim Público do Serro (atual Praça João Pinheiro) e Igreja de Santa Rita
Créditos:Acervo do IPHAN (Monumenta)

Às margens dos córregos Quatro Vinténs e Lucas foram encontradas as jazidas de ouro que, então, deram origem ao Arraial das Lavras Velhas. Conta-se que a responsável pela descoberta foi a negra de origem mina Jacinta de Siqueira. Na época, era costume contar com escravos dessa procedência, em especial mulheres, nas expedições que buscavam o mineral, por eles terem larga experiência em mineração na África. O nome Quatro Vinténs teria se originado da quantidade de ouro retirada do leito do córrego na primeira bateada da negra Jacinta. Em seus primórdios, o arraial também recebeu o nome de Arraial do Ribeirão das Minas de Santo Antônio do Bom Retiro do Serro do Frio.

Com a sua crescente produção aurífera, o arraial viu também aumentar sua importância para a Coroa Portuguesa e para a Colônia, sendo elevado a freguesia em 1713 e a vila no ano seguinte. Tendo recebido o nome de Vila do Príncipe em homenagem a D. José I, príncipe português, a vila viveu um grande impulso desenvolvimentista, com destaque para a instalação do Senado da Câmara e a criação da Comarca do Serro Frio. Se, antes, a vila pertencia à comarca de Sabará, àquele tempo Vila de Sabarabuçu, a partir de então ela se tornou a sede da maior comarca da capitania das Minas Gerais, a qual abrangia todo o norte e nordeste do estado e fazia divisa com a Bahia.

A mineração, que tanto rendeu à Coroa e tão importante foi para o desenvolvimento da vila, no entanto, encontrou sua decadência em princípios do século XIX. A partir de então, os habitantes do local se voltaram para a agricultura de subsistência, pecuária e produção de queijo – o seu “ouro branco”. Não obstante, a vila continuou como centro administrativo e jurídico da região e, em 1838, foi elevada a cidade por lei provincial.

A dificuldade de acesso ao município, que não conseguiu se incorporar à malha ferroviária, fez com que ele ficasse distante da modernidade e de novas concepções arquitetônicas e urbanísticas, mantendo muitas de suas características coloniais. Em função disso e também por seu papel na história brasileira, a cidade foi a primeira a ter o seu complexo arquitetônico tombado pelo IPHAN, em 6 de março de 1938[2]. A cidade também tem reconhecido seu patrimônio imaterial: o Modo Artesanal de Fazer Queijo de Minas. Ele abarca várias regiões mineiras, dentre elas o Serro, tendo sido registrado em 07 de agosto de 2002 pelo IEPHA e em 13 de junho de 2008 pelo IPHAN. Hoje, o queijo do serro é reconhecido mundialmente como marca registrada do município e, ainda, do estado de Minas Gerais, levando o nome da cidade por todos os lugares. Além do queijo, o Serro possui uma cultura imaterial rica, autenticamente mineira e repleta de saberes tradicionais, festas religiosas e populares – destaque para a Festa de N. Sra. do Rosário e a Festa do Divino –, Congado, estórias pitorescas, etc.


[1] Via MG-010.

[2] A primeira cidade a ter seu conjunto arquitetônico inscrito no Livro do Tombo das Belas Artes foi São João del-Rei, em 4 de março de 1938. Contudo, segundo fontes do IPHAN, o Serro foi a primeira cidade a ter sido notificada, por carta endereçada ao prefeito, de seu tombamento. Tal ato, por si só, já dá ao bem o status de patrimônio cultural.