Prédio e Histórico do MRCO
Segundo memorialistas locais, a história do prédio em que o MRCO se localiza remonta a fins do século XVIII, quando foi construído para servir de residência ao procurador do Senado da Câmara e sua esposa. A transferência da casa para a família Ottoni, embora não seja documentada, deve ter ocorrido, provavelmente, ainda no século XVIII ou no início do XIX. Essa não foi a primeira casa da família na Vila do Príncipe. Há ainda uma residência, conhecida como “casa de José Eloy Ottoni”, que pode ter sido o lar dos Ottoni quando da sua chegada à vila.
Além de residência, antes de abrigar o museu, na edificação funcionaram outras instituições. Em 1911, a casa, que não mais se constituía como posse da família Ottoni, foi comprada pela Santa da Casa da cidade, responsável pela instalação de um asilo de órfãos e liceu. A incorporação do imóvel ao patrimônio da União se deu em 1918, por intermédio de Júlio Benedicto Ottoni, filho de Cristiano Ottoni, para que nele fosse instalado o Patronato Agrícola Casa dos Ottoni, o qual foi fechado em 1930, após a morte de seu benfeitor e a despeito de sua vontade. Quatro anos mais tarde foi aberta, no “solar dos Ottoni”, uma maternidade administrada pela Santa Casa de Caridade dedicada ao atendimento de parturientes pobres.
Em 13 de abril de 1944, o Ministério da Fazenda autorizou a alienação do imóvel via concorrência pública. Tal venda, no entanto, não ocorreu, devido à intervenção de Rodrigo M. F. de Andrade. Assim, no mesmo ano, a posse foi transferida para o SPHAN e, em função de seu estado de conservação, o prédio passou por um processo de restauração. Alguns anos depois, em 28/04/1950, a “Casa dos Ottoni” foi tombada, conforme consta no Livro do Tombo nº270, fl.46.
O motivo da intervenção de Rodrigo M. F. de Andrade no momento da alienação da Casa dos Ottoni fica bastante claro em carta escrita por ele em 5 de maio de 1944 a Gustavo Capanema, então Ministro da Educação e Saúde[1]: “trata-se, efetivamente, da casa onde nasceram Elói Otoni, Teófilo Otoni e Cristiano Otoni, doada à União Federal por um de seus descendentes, a fim de perpetuar a memória daqueles grandes brasileiros”[2].
Fontes orais identificam a criação do museu durante a década de 1940, sendo que nos anos 60 e 70 a Casa dos Ottoni já teria um funcionamento, ainda que informal, sendo aberta pelo Sr. José Olímpio de Moura, conhecido na cidade do Serro como Seu Olímpio. No entanto, quanto aos usos propostos para o imóvel, na carta mencionada, Rodrigo sugere que “o edifício, de tão notável valor histórico, poderia ser usado para sede desta repartição [o SPHAN] na aludida cidade (…)”. Já em documentação do diário oficial de 5 de agosto de 1957[3] (portanto, posterior ao tombamento da casa), existe menção à criação de um museu no local, juntamente com uma referência à restauração dos trabalhos do patronato agrícola:
“Trata-se da casa onde nasceram Teófilo e Cristiano, personalidades que tanto ilustram a história política e econômica do Império. A memória desses mineiros voltados à causa da liberdade e do desenvolvimento econômico brasileiro deve ser cultuada, não apenas nas atividades de museu, como ainda nos trabalhos do patronato agrícola, que ali existiu e merece ser restaurado.”
Em 17 de outubro de 1984, foi assinado um convênio entre a Fundação Nacional Pró-Memória, a Secretaria de Estado de Cultura de Minas Gerais, o Instituto Estadual do Patrimônio Histórico e Artístico de Minas Gerais, a Prefeitura Municipal do Serro e a Arquidiocese de Diamantina que visava implantar o Museu do Serro, cuja proposta era composta por três módulos a serem instalados na Igreja de Bom Jesus do Matosinhos, na Chácara do Barão e na Casa dos Ottoni. Segundo o documento, a Casa dos Ottoni abrigaria um museu regional e teria exposto o acervo que já se encontrava no prédio. Para tanto, a edificação foi novamente restaurada.
Nesse processo, merece destaque Rui Mourão, então diretor do Museu da Inconfidência e coordenador do Grupo de Museus e Casas Históricas de Minas Gerais. Deve-se a ele a manutenção de várias instituições históricas do estado a partir da década de 1970, quando iniciou o seu trabalho em prol da preservação dos bens patrimoniais culturais brasileiros, em especial os de Minas Gerais. Em depoimento redigido por ele e entregue ao MRCO, Rui Mourão relata que buscou “criar condições para que as unidades mais modestas subissem de posto, passando a integrar o conjunto de instituições que, de portas abertas, funcionavam satisfatoriamente organizadas, recebendo visitantes”[4].
Podem-se considerar como primeiros registros de funcionamento regular do MRCO as assinaturas no livro de visitação do MRCO que datam de 1991, quando a instituição foi reinaugurada pelo IPHAN/ Pró-Memória.
O MRCO no presente
Em 2009, em função da lei nº 11.906, foi criado o IBRAM – Instituto Brasileiro de Museus – uma nova autarquia, vinculada ao Ministério da Cidadania, à qual cabe a administração e manutenção dos museus federais antes pertencentes ao IPHAN. Atualmente, o MRCO conta com um corpo técnico consistente que vem trabalhando no sentido de tornar o museu um espaço de todos e consolidá-lo como um lugar dedicado ao direito à(s) memória(s) e ao conhecimento.
Missão do museu
Ao Museu Regional
Casa dos Ottoni foi atribuída a missão de preservação, pesquisa e divulgação do
passado histórico e cultural do Serro e da família Ottoni, dedicando-se também
a discutir o que possa se relacionar, nesse contexto, aos mais diversos
aspectos da cultura atual. Nesse plano, podemos identificar a necessidade de
concentrar as atenções para o cumprimento pleno do exercício museológico na
sociedade onde está inserido, procurando incrementar e propor atividades no
campo cultural, de forma que a instituição seja polo de discussão constante do
passado, presente e futuro.
[1] Carta localizada no arquivo da 13ª Superintendência Regional do IPHAN (Serro/MG).
[2] Percebe-se claramente, na concepção do MRCO, a visão cívica de construção da identidade nacional que serviu de guia para as ações do SPHAN, permeada pelo culto à memória dos personagens ilustres, grandes homens que tiveram papel relevante para a história do Brasil..
[3] A publicação do ofício no Diário Oficial da União encontra-se na 13ª Superintendência Regional do IPHAN, localizada no Serro/MG.
[4] Depoimento de Rui Mourão pertencente ao MRCO.